quarta-feira, 5 de maio de 2010



II

Turva-se a noite amargurada
Quando a flor, ventre de sementeira,
Racha e seca como terra desfolhada,
Chora e sofre lágrimas de poeira.

Turvam-se os dias em noites derradeiras
E os maternos olhares sem itinerários
Perdem-se nas noites dos dias solitários...

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XVI

Pude ver no seio da imaginação
Que a criação não é mera fantasia,
As esculturas transcendentais do artesão
São, talvez, a visão de outra moradia,
Outra população, cidade ou planeta...

Talvez seja a revelação para que a arte converta
O fel do mundo pela tinta de uma caneta!
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drika duarte
poemas do meu segundo livro, 70 vezes 7,
lançado recentemente.

domingo, 25 de outubro de 2009

CANDEIA




Candeia estrela clara rosa rubra
E pincelando na imensidão dos céus nos cubra
Com o arco de luz que tu ara e semeia
Estrela do amor verseja tua cor e clareia...

No meio da escuridão uma faísca cinge
Guardada pela mais sagrada esfinge
Alimentada pelos sonhos das crianças encantadas
A luz sempre cresce, comunga e tece a estrada

Candeia o caminho que traça na branca areia...
Incendeia o mal que arrasta e permeia,
Nas mentes cansadas instala o sol e exemplifica
Arranca o galho seco, rega, cuida e frutifica.

drikaduarte_almasbrancas

terça-feira, 6 de outubro de 2009

CONCISA





Abrasa-me os olhos da poesia
Tanto, tanto que me derramo
E sei que nenhum finado ramo
Na minha imensa horta eu plantaria

Reconheço a tortura que me clama
Sei do gosto podre da doce lama
Sei do comando disparado da musa fúria
Que nos escraviza na rude injúria

Neste árduo lamento me contento
Em conter o meu triste descontentamento
E a minha luta me eterniza

Para equilibrar meu desvario
Enxugo minha fronte e encho o rio
Que lavra minha alma livre e concisa.


drika duarte_almas brancas

sábado, 29 de agosto de 2009

DUAS LUAS NO CÉU



Como posso encontrar sorrindo
Os versos do meu desejo
Tão claramente embutido
Nos olhos que não vejo?

E se bem eu quisesse
É bem certo que eu quereria
A razão para que houvesse
Tanta luz em um só dia

Nesta noite proponho
A dois olhos tristonhos
Duas luas de enfeite

Que marque a ferro quente
Os corpos que esperam ardentes
A bela canção do fino deleite...

drikaduarte_almasbrancas

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Bandeja Repartida


Em cada esquina deste chão
Em cada piso, em cada vão
Dorme um ser regado pelo anil

Em cada quarto, em cada dor
Em cada medo, em cada flor
Há um sonho de amor para o Brasil

Pelas calçadas da ilusão
Rostos perdidos no que leva a mão
Vidas marcadas na contradição

Tantos olhos que passam sem ver
As vidas que morrem para renascer
Tantos filhos deste solo desigual

Farpas, armas, drogas, frutos do arsenal
Do futuro, do presente, do presidente
Da congregação onipotente

Senhores não me levem a mal
Meus versos são de cores
Para o congresso nacional

Senhores não me levem a mal
Minha arte é de vida
Meu coração é uma bandeja repartida
Para o sangue do jornal...
drika duarte_almas brancas

domingo, 12 de julho de 2009

GRÁVIDA



A vida que trança meus cabelos
Tão alva e casta em ouros novelos
Faz de mim tão filha, tão reprodutiva

Do fruto que alimenta a raiz mais altiva
Do sal que sacia a sede, a fome
Que limpa o mau agouro do povo sem nome

A vida que ávida me entra
Traz a ternura em que o bem concentra
Traz a mão que afaga os ensejos
Da noite transpassada pela aurora que versejo.


Drika Duarte_almas brancas
A ROSA

Para onde vai a rosa quando morre
Em que finado vaso ela dorme
Qual caminho trilha, no conforme,
Para chegar a esta longínqua terra?

Creio, com dolência, que ela decorre
Dos céus como uma chuva em ritos
E neste mundo material descerra
O perfume onírico da celestial jura

De descer ao mundo dos aflitos
Para enfeitar os caminhos ermos desta tortura.
Creio ainda, que o espinho é como o corpo roto

Que envelhece e apodrece morto
E murchando em gritos a rosa se eleva à quimera,
Tal qual a alma sobe para a primavera que nos espera.


Drika Duarte_almas brancas

foto: Fábio Pinheiro